A exposição ÀS ESCURAS de Rosa Carvalho (Lisboa, 1952) inaugura a 27 de Junho no Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, com curadoria de Isabel Carlos.
A exposição reúne um conjunto de mais de 200 trabalhos, entre desenhos, pinturas e objectos tridimensionais, provenientes do espólio pessoal da artista. Esta é uma rara ocasião de contactar com a obra de Rosa Carvalho, mais de uma década depois da última exposição individual, em Bruxelas.
Rosa Carvalho tem-se afirmado desde os meados dos anos 80 do século passado como uma pintora figurativa em que as temáticas da paisagem e as referências à história da arte antiga foram dominantes.
Nos últimos anos, já no séc. XXI, a artista iniciou uma outra linha de trabalho: a construção de pequenas maquetes-esculturas de paisagens feitas com materiais reciclados e com o que está à mão — uma caixa de cigarrilhas, uma caixa de madeira, redomas de vidro —, num processo de reciclagem e transformação de materiais e objectos e o recurso às miniaturas — pessoas, árvores, casas — usadas para os modelos miniaturas dos comboios elétricos.
A artista pinta numa sala sem janelas, sem contacto com o exterior, sem luz natural, na escuridão: a tela é somente iluminada pela luz do projector, sem ver claramente as cores das tintas que estão ao lado e que vai buscando às cegas, só se revelando quando já estão vertidas no suporte da tela ou do papel. Mas, «às escuras», não somente pelo processo de criação, mas também porque estas obras são um retrato poderoso de um mundo em que hoje vivemos, potencialmente apocalíptico na existência de múltiplas guerras, nos desastres naturais cada vez mais comuns, na emergência climática — como que afirmando que, perante o excesso do mundo e de imagens em circulação, só podemos ser ainda mais excessivos no modo como se mistura, em contínuo, mundo animal e mundo humano, como se representa paisagens bucólicas, mas atravessadas pela destruição e extinção em potência, como que esperando que depois da escuridão se encontre a luz.
Isabel Carlos, em Lisboa, Maio, 2024
Inserida na parceria tão relevante que desde há uma década existe entre o Museu e a Fundação Carmona e Costa, esta é a primeira exposição que tem lugar depois da morte de Maria da Graça Carmona e Costa, membro activo do Conselho de Patronos da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, grande mecenas das Artes, amiga dos artistas, coleccionadora singular e galerista.
ÀS ESCURAS a visitar até 7 de Outubro de 2024, de terça a domingo, das 10h00 às 18h00, no Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva, na Praça das Amoreiras, em Lisboa.
Na imagem | Rosa Carvalho, Montségur, 2004, óleo sobre tela, 130 x 200cm.