Arquitetura e Projeto Museológico

Saiba mais sobre o museu, a sua história, arquitetura e projeto museológico

História e Arquitectura

O imaginário de Vieira da Silva foi preponderante não apenas na escolha do lugar para instalar a Fundação, como também na respectiva concepção arquitectónica. A ideia inicial de reabilitar a casa do Alto de São Francisco deu lugar à opção de adaptar o edifício da antiga Fábrica de Tecidos de Seda, na Praça das Amoreiras, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa para essa finalidade.

 

O programa museológico foi elaborado pelo arquitecto José Sommer Ribeiro, com a colaboração de Guy Weelen e, de acordo com a preferência expressa por Maria Helena Vieira da Silva, o projecto de arquitectura da FASVS foi também atribuído, por convite, a Sommer Ribeiro. Ao longo de muitos anos de contactos profissionais, nomeadamente no quadro da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a pintora desenvolvera uma relação de amizade com Sommer Ribeiro e estava plenamente convicta de que ele seria a pessoa indicada para materializar o museu que idealizava. Devido à complexidade técnica inerente à conversão da antiga Fábrica em Sede e Museu da Fundação e às limitações de disponibilidade para elaborar o projecto de arquitectura, decorrentes das suas funções como director do Centro de Arte Moderna (CAM) da FCG, Sommer Ribeiro entendeu ser conveniente solicitar a cooperação do arquitecto Richard Clarke, seu genro, que participara, anos antes, na obra do CAM, na qualidade de colaborador do arquitecto Leslie Martin. Vieira acompanhou o projecto até 1992, ano da sua morte.

 

Ao escolher o imóvel da Fábrica, a pintora desejava que as características do lugar fossem preservadas e que, após a adaptação a Museu, prevalecesse uma atmosfera discreta e simples, quase monástica. Vieira da Silva acreditava que a sobriedade do espaço era essencial para propiciar a fruição da sua pintura e, nesse sentido, o despojamento do imóvel preexistente adequava-se plenamente à forma como idealizava o ambiente museológico. Assim, o projecto de arquitectura procurou corresponder à intenção da artista de conservar a simplicidade do lugar, alterando minimamente os edifícios originais. As principais directrizes do projecto convergiram para a criação de “um espaço claro de cores neutras, boa iluminação, grandes áreas de paredes contínuas, humidade controlada, livre de sons estranhos, um pacífico e repousante ambiente.” [José Sommer Ribeiro e Richard Clarke, “Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva”. In Architécti . 32 ( Jan-Mar. 1996) 54].

 

O edifício “foi concebido com o fim de criar espaços para exposições, quer permanentes quer temporárias, bem como uma zona de estudo, um pequeno espaço destinado a leitura com 100 lugares […], arrumações para as colecções, um espaço destinado a workshop, cafetaria e área administrativa.” [Ribeiro e Clarke, op. cit., p. 50]. A escassez de área para concretizar o programa pretendido, partindo da premissa de manter os dois edifícios originais, levou à ampliação do armazém do século XX, mediante a construção de um piso em cave. Paralelamente, a abertura do sótão (que estava completamente desaproveitado) permitiu ampliar a volumetria interna do edifício pombalino aumentando o espaço disponível.

 

A intervenção pautou-se por uma manifesta sobriedade e por uma cuidada interpretação da envolvente e das preexistências. No essencial, o desenho das fachadas de ambos os edifícios (fábrica pombalina e armazém do século XX) foi mantido. A antecâmara criada em negativo no edifício pombalino constitui a alteração mais visível na fachada principal, configurando-se como um espaço de transição entre a escala urbana da Praça das Amoreiras e a atmosfera intimista do interior do Museu. O espaço da antecâmara é delimitado por uma segunda fachada, com um amplo envidraçado que reflecte o pavimento em calçada portuguesa, executado a partir de um desenho de Vieira da Silva para o padrão de uma cortina.

 

Através das portas de vidro, entra-se no átrio principal do Museu, ponto de partida para todos os percursos de visita. Organizado em torno de um núcleo central com duplo pé-direito, que reinventa a memória do antigo alçapão, o átrio proporciona a comunicação entre os dois pisos do edifício pombalino e a nave industrial dos anos 1920. Esta primeira vista da galeria a partir do átrio evoca o quadro de Vieira da Silva Atelier Lisbonne (1934-35) que, de acordo com o arquitecto Richard Clarke, serviu de tema para a concepção do espaço.

 

Subindo a escadaria, num percurso pontuado por um patamar intermédio, em que se encontram expostos alguns quadros de Arpad e Vieira, chega-se à galeria principal, instalada no antigo armazém e consagrada à colecção permanente. Segundo o arquitecto Sommer Ribeiro, a estrutura do telhado do armazém agradou particularmente à pintora, cujo quotidiano era marcado por espaços em que a madeira tinha um forte impacto visual, como sucedia no interior da sua casa de campo em Yèvre-le-Châtel (França).

 

Era desejo de Maria Helena Vieira da Silva que as suas obras fossem expostas lado a lado com as de Arpad Szenes. Esta premissa condicionou toda a proposta museográfica e, embora os arquitectos tenham optado por criar duas zonas distintas na galeria principal, a separação entre os núcleos dedicados a cada um dos pintores é subtil. As obras de Vieira da Silva apresentadas na galeria maior revelam alguns aspectos essenciais da sua obra. Em certos momentos, estabelece-se uma analogia visual entre a expressividade das asnas do telhado e as “estruturações arquitecturais da superfície pictural” [Alexandre Pomar, “De volta a casa”. In Expresso – Revista. (05-11-94) 98], patentes nos quadros de Vieira da Silva; os contrastes de claro/escuro, a sobreposição de linhas, a subdivisão sucessiva de formas, a multiplicação de perspectivas e a sugestão de um ponto de fuga ao fundo de uma sequência de planos promovem um diálogo estimulante entre o espaço da galeria e os conteúdos expositivos. Este diálogo acontece também, de um outro modo, no núcleo dedicado a Arpad Szenes, onde a luminosidade das telas se prolonga na claridade difusa do espaço arquitectónico.

 

Embora a galeria principal esteja reservada prioritariamente para apresentar a colecção permanente, já foi pontualmente ocupada com exposições temporárias de outros artistas […].

 

Atravessando o corredor paralelo à galeria, o circuito expositivo prossegue através das salas situadas no primeiro andar da antiga Fábrica. O corredor, criado no lugar do antigo saguão que separava a Fábrica pombalina do armazém, ultrapassa a mera resposta aos requisitos funcionais de um eixo de circulação, constituindo um espaço de mediação entre duas construções com identidades arquitectónicas diferenciadas. Nos dois pisos principais, a luz natural proveniente das janelas sobre a Travessa da Fábrica dos Pentes, acentua o efeito perspéctico e cenográfico do corredor, conferindo-lhe uma identidade arquitectónica própria que, por momentos, lembra a ilusão de profundidade de alguns espaços representados na pintura de Vieira da Silva.

Em complementaridade com a galeria implantada no armazém dos anos 20, as salas do edifício pombalino revelam-se mais ajustadas à exposição de pinturas e desenhos de pequenos ou médios formatos que requerem uma observação mais próxima. A sequência de salas resultou da compartimentação original, em que foram mantidos os principais vãos preexistentes (janelas, portas, arcos). Nestas salas de menores dimensões vislumbra-se a ideia de “espaço-caixa”, um espaço limitado e introvertido tantas vezes explorado nas construções pictóricas de Vieira da Silva. E, tal como nos seus quadros, também aqui a luz é filtrada, condicionada, dirigida.

 

Os circuitos expositivos são pontuados por enquadramentos visuais tanto sobre o exterior como sobre outros espaços do interior do Museu (do corredor para a Travessa da Fábrica dos Pentes; das janelas pombalinas para a Praça das Amoreiras; do átrio ou do mezzanino para a galeria principal e para o sótão…). No entanto, constata-se que os percursos internos não promovem uma relação directa com a praça, uma vez que os arquitectos consideraram que a concentração deveria “ser dirigida para as obras de arte e não para a envolvente” [Ribeiro e Clarke, op. cit., p. 54]. Trata-se, na verdade, de um espaço introvertido, em que a comunicação com o exterior se estabelece de forma graduada e subtil, o que contribui para a impressão de tranquilidade que caracteriza o Museu.

No final do percurso museográfico, o visitante regressa ao piso térreo, onde se situa a cafetaria. Apesar de ter uma dimensão reduzida, a cafetaria cumpre eficazmente a sua função sendo enriquecida, simultaneamente, pela relação visual com o Jardim das Amoreiras e pelo revestimento das paredes com azulejos desenhados por Maria Helena Vieira da Silva para a cozinha da sua casa de campo Yèvre-le-Châtel, produzidos com a colaboração do pintor e ceramista Manuel Cargaleiro.

 

Excerto do texto de Helena Barranha no catálogo Património e biografia. Vieira da Silva e o Jardim das Amoreiras. Lisboa:FASVS, 2009. Pp. 43-48. Editado por ocasião da exposição com o mesmo nome, comissariada por Helena Barranha e Marina Bairrão Ruivo, que teve lugar no Museu entre 2 de outubro de 2009 e 21 de fevereiro de 2010.

O texto não segue o Acordo Ortográfico de 1990.

Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, 1998
Museu

Maqueta da obra – Remodelação do edifício da Praça das Amoreiras

Galeria grande

Projeto museológico

A Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva foi criada para, de forma exigente e bem documentada, empreender o estudo e difundir o conhecimento da obra de Vieira da Silva que pode ser considerada a mais destacada artista plástica nascida em Portugal no século XX, assim como a do seu marido, Arpad Szenes. Baseando-se no objetivo de enquadrar histórica e esteticamente a produção dos dois artistas, a Fundação apresenta, regularmente, exposições temporárias de outros artistas, nacionais e internacionais, que com eles conviveram ou partilharam afinidades artísticas.
O programa museológico pretende ser dinâmico e inovador, pensado para tornar a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva num museu de referência da obra dos artistas e corresponder condignamente  a novos desafios. Fomentando os projetos e as atividades paralelas, mantendo o parâmetro de qualidade que tem regido a sua atuação, inclui-se na programação, sempre que possível, exposições e projetos de artistas mais novos, em parceria ou intercâmbio com outras instituições. A programação, no museu, mas também na organização ou participação de exposições no estrangeiro e em Portugal, tem também por objetivo situar a obra de Arpad Szenes e de Vieira da Silva no panorama da arte nacional e internacional.

Prémios

2018

APOM Prémio Projecto de Educação e Mediação Cultural (Museu para Todos)

APOM Menção Honrosa Parceria (Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva |  Amoreiras Shopping Center)

 

2017

APOM Prémio Incorporação (Aquisição de seis obras de Vieira da Silva pelo Estado Português, depósito na FASVS)

 

2016

APOM Prémio Melhor Projecto Internacional (Exposição Maria Helena Vieira da Silva. L’espace en jeu, Musée de Céret, França, 2015)

APOM Prémio Melhor Transporte (Exposição Sonnabend, Paris-New York. Os primeiros 5 anos da Galeria Sonnabend em Paris, 1962-1967, FASVS, 2015)

SPA Prémio Pró-Autor

 

2014

APOM Prémio Melhor Projecto Internacional (Exposição Vieira da Silva Agora, MAM, Rio de Janeiro, Brasil, 2013)

APOM Prémio Melhor Transporte (Exposição Vieira da Silva Agora, MAM, Rio de Janeiro, Brasil, 2013)

 

2011

APOM Menção Honrosa Projecto Internacional (Exposição Percurso Fotobiográfico de Maria Helena Vieira da Silva, Museu Óscar Niemeyer, Curitiba, Brasil, 2010-2011)

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